Devolver a visão, a quem aguarda por essa chance, é um gesto de solidariedade que transforma vidas. Em Santa Catarina, foram realizadas 427 doações de córneas entre janeiro e agosto de 2025. O Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON), unidade do Governo do Estado, é referência estadual e se destaca com 46 doações deste tecido ocular. Neste Setembro Verde, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) reforça a importância de comunicar aos familiares a sua vontade de ser doador.

A doação de órgãos e tecidos só acontece com a autorização da família. Por isso, é essencial que cada pessoa manifeste em vida o desejo de ser doador, facilitando a decisão em um momento de dor. Foi o que aconteceu com Paulo Diogo, irmão de Dirceu que foi paciente do CEPON.

“Quando cheguei ao hospital, meu irmão já havia falecido. Ele estava sofrendo muito. A equipe me perguntou sobre a doação e eu disse sim, porque acredito que era algo que ele também gostaria. Foi um momento muito triste, mas decidimos doar as córneas e tudo o que pudesse ser aproveitado. Aqui em casa, conversamos sobre isso: queremos doar o que for possível, porque acreditamos nesse gesto”, destaca Paulo.

Mesmo pacientes oncológicos, que em muitos casos possuem restrições para a doação de órgãos e tecidos, podem ser doadores de córneas — salvo algumas exceções, como em situações de doenças onco-hematológicas. Isso é possível porque cerca de 90% das córneas avaliadas estão aptas para transplante e podem ser preservadas por até 15 dias após a retirada.

 “No CEPON, conduzimos todo o processo com ética e profundo respeito, garantindo que o corpo do doador seja tratado com dignidade, sem alterações na sua aparência, o que possibilita uma despedida serena e sem atrasos. A decisão de doar é um gesto de amor que transforma a dor em esperança e salva vidas”, explica o diretor-geral do CEPON, Dr. Marcelo Zanchet.

Segundo a Central Estadual de Transplantes – SC Transplantes, este ano, até final de agosto, foram realizados 581 transplantes de córneas e escleras em Santa Catarina. Atualmente, 578 pessoas seguem na fila de espera.  Para muitas delas, a doação representa a única esperança de voltar a enxergar.

Converse com a sua família, fale sobre o desejo de doar. Esse gesto simples pode mudar destinos e devolver qualidade de vida a quem mais precisa. “Para a família doadora, em um momento de imensa dor, saber que seu ente querido proporcionou uma nova vida a outra pessoa pode trazer um profundo consolo e um novo significado à perda. É um legado de generosidade que continua a pulsar no mundo”, conclui Paulo.

Compromisso e resultados

Desde 2013, a Comissão Hospitalar de Transplantes do CEPON (CHT-CEPON) atua de forma ativa nesse processo. Até agora, já foram contabilizadas 1.031 doações. O trabalho da equipe rendeu à instituição o título de maior doador de córneas de Santa Catarina em 2018. “Cada doação pode beneficiar duas pessoas. Esse resultado só é possível graças à dedicação dos profissionais e à decisão solidária das famílias, que transformam a dor da perda em esperança para quem espera por um transplante”, afirma a coordenadora da Comissão, Enfermeira Giovanna Trescher.

Santa Catarina é referência nacional em doação e transplante de órgãos e tecidos. Por meio da SC Transplantes, que atua ativamente neste processo, é destaque nas taxas de doação (42,4 pmp) e a de não autorização familiar (28,4%). Mesmo com os dados positivos, a fila de espera continua sendo um desafio, reforçando a necessidade de ampliar a conscientização sobre a importância da doação.